sexta-feira, 27 de abril de 2012

“Sou totalmente contra qualquer forma de aborto“


Aprovada a legalização do aborto anencefálico, o Reverendo Geraldo Barbosa diz não aprovar essa decisão “imatura” da justiça brasileira.


A entrevista desta quarta-feira (18) discute sobre a legalização do aborto anencefálico, aprovada pelo STF no dia 12 de abril, aquele em que o feto sofre a má formação do tubo neural. Realizada com o Reverendo Geraldo Barbosa, integrante da equipe de capelanios da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Formado em Teologia, psicologia e cursando mestrado na área de distúrbio do desenvolvimento.
Ele fala sobre direito à vida e discute sua opinião sobre o assunto implicando tanto o lado da mãe quanto o do feto.


Alunos- Foi aprovada a legalização do aborto anencefálico pelo STF (Supremo Tribunal Federal), no dia 12 de abril. Primeiramente, gostaríamos de saber, em sua opinião, a partir de que momento se origina a vida?

Barbosa- Pra mim, desde a concepção, desde o encontro do ovário com o espermatozóide.

Alunos- Qual sua posição sobre o assunto?

Barbosa- Sou totalmente contra qualquer forma de aborto, meu voto é como o do presidente lá no tribunal. Porque é uma visão física, pois o ser humano não é formado apenas da forma física, tem que se levar em consideração outras partes também. Por isso, eu acho limitador nós votarmos em uma lei só olhando os aspectos físicos. Com certeza o cérebro comanda, mas o ser - humano vai além de comandos. 

Alunos- Qual é o impacto pra sociedade, numa visão geral?

Barbosa- Eu acredito que o impacto, eu não tenho como mensurar. Mas ele é prejudicial porque eu vejo que o homem de hoje tem uma visão muito antropocêntrica- o homem no centro- e para nós pastores, a vida é uma criação de Deus, a vida está debaixo do controle e soberania de Deus.  Então é Deus que dá a vida e tem o poder de tirá-la. A sociedade antropocêntrica acaba se idolatrando e essa idolatria do eu, pela nossa própria infantilidade existencial pode nos fazer com que tomemos algumas decisões equivocadas. Então, assim, mensurar isso agora seria uma infantilidade da minha parte, mas acredito que trará prejuízos a curto ou médio prazo.

Alunos- O senhor acha que com a legalização dessa forma específica do aborto, de alguma forma via influenciar a legalização do aborto em geral?

Barbosa- Eu acho que esse é o primeiro passo para um diálogo. A minha grande preocupação é a questão da idolatria do eu, e desta forma ao abrir esse diálogo pode-se levar a outros diálogos como nos casos de meninas que foram violentadas. Então teríamos outros diálogos que vai fomentar tanto a questão que vai acabar generalizando. E a meu ver há uma falta de educação na área da sexualidade, isso é importante. O que nós deveríamos combater é a exploração do turismo sexual, o trabalho de controle de natalidade, deveríamos valorizar mais a cada dia a vida. A minha preocupação é a decadência dos valores morais e a desvalorização do núcleo familiar.

Alunos- O senhor acredita que a lei está entrando em contradição, porque ela fala que todo ser - humano tem direito a vida e ao ser legalizado o aborto anencefálico a lei estaria entrando em contradição, não dando a essa criança a possibilidade de vir a vida?

Barbosa- Eu acredito que sim, porque ainda que aquele feto tenha pouco tempo de vida, ele continua tendo direito a vida. Ele tem o direito de nascer e ainda que ele viva poucos dias, meses, e eu não sei ao certo, ignorância minha. Mas o tempo em que ele viver, ele tem o direito aquele tempo de vida. Porque como eu disse, a vida quem dá é Deus e o fim da vida também

Alunos- Estudos mostram que a maioria das crianças vivem minutos apenas, porém teve um caso muito famoso que foi o da Maria de Jesus que vivem durante 1 ano e 8 meses. Diante disso temos que analisar se isso vale a pena ou não.

Barbosa- Por isso que eu ainda defendo a vida, porque assim como essa exceção, cabe a Deus esse determinismo e não a juízes e médicos nem a nós.

Alunos- E quanto a visão da mãe? Imagine que ela está inicialmente com uma vida sendo gerada no seu útero, 12 semanas depois já pode ser constatado que a criança é anencefálica. Após essa constatação, a mãe pode entrar numa depressão psicológica. Nesse caso o senhor acha que pode estar agredindo a saúde física e psicológica da mãe?

Barbosa- Se isso trouxer problemas quanto a vida da mãe, se a mãe corre risco de vida, aí eu sou a favor até da retirada. Mas volto a referir, sou a favor da vida.

Alunos- Em 2009 uma pesquisa feita pela ONU aponta um aumento de 42% da população de 1980 a 2009 que seriam a favor do aborto para prevenir a saúde mental e 24% em casos de malformação fetal. Qual seria uma explicação possível para este aumento?

Barbosa- Temos que pensar na sociedade como um todo em que as pessoas são estereotipadas, não é porque os deficientes não nascem com todo seu potencial que não tem direito a vida. Estamos retomando a ideia espartana de que todos os filhos têm que ser perfeitos.

Alunos- Mesmo nos casos de anencefálicos, o senhor acredita nessa potência?

Barbosa- Em questão dos anencefálicos, eu sou a favor da vida, se isso trouxer prejuízo à vida da mãe, aí sim eu sou a favor deste aborto.
Alunos- O senhor acha que foi uma decisão imatura, no sentido em que deveria ser discutido mais esse assunto? O país está preparado para esse tipo de decisão?

Barbosa- O país tem um problema sério de saúde pública. Contudo eu acredito teria que haver mais diálogo e pensar mais sobre o assunto antes da decisão.


*entrevista realizada pelos alunos de jornalismo Laura e Thiago, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 1º semestre.

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